A sensação era a de que tudo o que estudara e lera e sempre quisera conhecer, tornava-se verdade concreta. "Então fez mesmo parte da história", pensava. As cartas, os instrumentos, as roupas, os olhares.
Que nobres foram esses que com a mesma música sentiram o que ela hoje sente? Que pessoas foram essas, cujas aparências foram preservadas pelo que fizeram de suas vidas? Virtuoses de um passado, do presente e de um futuro eterno. Gênios de uma arte que não temia expressar a pureza do sentir. Homens que não mais habitam, personagens de um tempo infinito.
E ali mesmo, os olhos marejados indicavam uma emoção vinda de algum lugar, mas não tinha com quem dividir, estava sozinha. Quis fingir não sentir, afastar tudo o que lhe vinha. Pensamentos, angústias, alegrias e tristezas. Quis ela disfarçar para que os outros não a vissem, mas também, estavam eles tão ocupados em tagarelar, talvez nem notassem. Ela preferia imaginar.
E por não ter com quem compartilhar, aprendeu a sorrir só, a sentir só e só ficar. Naquele instante a música era sua companhia; a vontade de ali estar, a razão; o prazer de conhecer; os motivos; a novidade, o prazer.
*Fotos: Casa de Mozart - Salzburg, Áustria