sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Um momento, apenas

Ontem, enquanto rumava ao trabalho, deparei-me com uma cena da qual ainda não consegui me desfazer. Nos poucos instantes em que olhei para fora da janela do ônibus, encontrei um menino sentado em um banco de uma praça deserta. Não havia ninguém mais no local. Nas mãos, tinha ele uma caneta ou um lápis talvez. À frente, sobre a mesa de madeira, um caderno. Ele olhava em direção ao horizonte e rabiscava algo na folha estendida. Será que estava a desenhar? Será que ensaiava as futuras linhas de uma poesia? Mas, parecia tão pequeno para isso tudo. Por que não brincava? Estava tão centrado em sua produção. Será que não tinha medo de ficar ali sozinho? E se chegasse alguém?

A cena, talvez, faça ainda parte de meus pensamentos pela tranquilidade do garoto e pela nostalgia dos tempo em que me era permitido desenhar para escapar dos deveres diários; quem sabe até um certo desejo de lhe fazer companhia. Vontade de sentar ali e fazer do tempo o desenhar das ideias que correm na memória. Vontade de sentar em uma praça deserta em um dia ensolarado.

Passei por lá hoje mais uma vez. Ele, no entanto, não mais fazia parte do cenário. O guri de, quem sabe, seus 10 anos já deve ter também muitas tarefas a fazer. Deveres da vida dita contemporânea...

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Sorrir só e só sentir

E naquele mesmo tempo, passado e presente se uniram para seguir o futuro. As notas desenhavam a melodia que se espalhava pelo ar. O som batia nos objetos e ecoava nos ouvidos. Harmonias misturavam-se aos sonhos e ela projetava-se a um lugar que não mais existia, não como um dia fora.

A sensação era a de que tudo o que estudara e lera e sempre quisera conhecer, tornava-se verdade concreta. "Então fez mesmo parte da história", pensava. As cartas, os instrumentos, as roupas, os olhares.

Que nobres foram esses que com a mesma música sentiram o que ela hoje sente? Que pessoas foram essas, cujas aparências foram preservadas pelo que fizeram de suas vidas? Virtuoses de um passado, do presente e de um futuro eterno. Gênios de uma arte que não temia expressar a pureza do sentir. Homens que não mais habitam, personagens de um tempo infinito.

E ali mesmo, os olhos marejados indicavam uma emoção vinda de algum lugar, mas não tinha com quem dividir, estava sozinha. Quis fingir não sentir, afastar tudo o que lhe vinha. Pensamentos, angústias, alegrias e tristezas. Quis ela disfarçar para que os outros não a vissem, mas também, estavam eles tão ocupados em tagarelar, talvez nem notassem. Ela preferia imaginar.

E por não ter com quem compartilhar, aprendeu a sorrir só, a sentir só e só ficar. Naquele instante a música era sua companhia; a vontade de ali estar, a razão; o prazer de conhecer; os motivos; a novidade, o prazer.








*Fotos: Casa de Mozart - Salzburg, Áustria

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

No matter who you are

Aqui, lá, do outro lado.
Eles não se conhecem. Também não cantam igual.
Estão, pois, unidos pelo que lhes é comum, a música.
Ao percorrer o mundo, um certo alguém resolveu juntá-los... e olha o que aconteceu:


sábado, 1 de agosto de 2009

Utilidade do ócio

Já que as aulas foram adiadas, meu “ócio” matinal foi prorrogado por mais duas semanas. Isso significa: mais tempos para tudo! Inclusive para a descoberta de novas paixões. Abaixo, uma singela lista de minha mais nova idolatria, a música irlandesa tradicional; dos festivais às mesas de bar com uma facilidade invejável.
Bom proveito!












quarta-feira, 22 de julho de 2009

E assim como entram, se vão. É, bem assim, com a mesma facilidade. Às vezes, do nada, elas aparecem no nosso caminho, ou nós tropeçamos no delas. Pessoas que conhecemos, nos acostumamos, e que, de repente, somem para não mais voltar. E aí você tem que mudar tudo para se acostumar, e voltar... Como se o vento tivesse mudado a direção e as levado consigo. Pessoas que a gente aprende a gostar e conviver. Seres que nos fazem ser únicos e que nos tornam únicos pelo simples fato de nos mostrarem um outro jeito de enxergar a vida, de vivê-la.

Nostalgia de momentos que o tempo aterrará.

Vontade que uma tempestade mudasse novamente a rota dos sopros e as trouxesse para cá; sonho que o futuro esquecerá. Pessoas que para sempre vão ficar.

*As fronteiras são longe... os estados nem tão pertos, as ruas da mesma Porto Alegre distanciam tanto quanto o outro lado é separado pelo oceano...

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Psicodélia dos velhos tempos...

Sim, estou atrasada, eu sei. Mas ainda estou na semana, não? Treze de julho foi dia mundial do rock e, por isso, também decidi falar sobre ele. Não aquele, hoje, reproduzido por zilhões de bandas. Quero falar de um estilo que mistura o clássico erudito com o clássico pesado.

Acontece que em outra das minhas atuais viagens pelos vídeos, encontrei mais uma raridade perdida entre os amontoados de streamings. E seguia assim... “Cause it's time, it's time in time with your time and it's news is captured…for the queen to use…”. Que news? Que queen?Captured por quem???

O rock progressivo, também conhecido por prog rock ou apenas prog, surgiu no final dos anos 60, agregando ao som, então apresentado, pitacos do jazz e do clássico. Uma espécie de harmonia e recombinações que tornaram o estilo um pouco mais refinado, trabalhado e sob uma nova forma de interpretar as notas. Músicas mais longas e que valorizavam a parte instrumental, letras estranhas. Temas como fantasia, religião, guerra, amor, loucura, história, política. Vocais bem estruturados, que ressoam no ouvido como se não necessitassem de acompanhamento. A arte de sugar do ser humano tudo o que ele é capaz e só ele.

Não vivi esta época, mas como queria ter desfrutado ainda mais as músicas de minutos infinitos, os antigos discos com apenas uma faixa; as palavras que pareciam não ter significado, e o significado escondido nas entrelinhas das metáforas; as viagens que o cérebro faz para entender... "We're just two lost souls simming in a fish bowl, Year after year" Como assim ? Que lindo! (lindo?)

Houve um tempo em que dedicava (e não perdia, pois de longe, isto seria uma perda) tardes para decifrar letras como essas... E na viagem, tentei até descobrir o tom da chuva (acho que fiquei perto de um lá menor, ou maior, não lembro). Pode alguém achar ser coisa boba, mas se até Nietzsche dizia que a música oferece às paixões o meio de obter prazer delas e que sem ela a vida não teria sentido, então acho que não posso me considerar tão inadequada, posso?

Não querendo comparar com o que, hoje, muito toca nas rádios (mas, já o fazendo),onde estão as músicas que fazem pensar? Que não dão de graça o significado direto? Que escondem e que podem deixar a imaginação adivinhar? ...Culpa do tempo? Das gerações? De uma sociedade acomodada com o que é mais fácil de ouvir e compreender?

Culpa de nada, coisa alguma, só os anos que passaram e nós (nós?) não somos o que eram nosso pais, avós, tataravós ... Enfim, na semana do rock, queria então voltar a pensar em ter um pouco mais de tempo para ele... só espero conseguir.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

...

E naquela mesma montanha, onde do mundo esqueceu, havia um monumento, uma passagem. Passagem? Como assim, uma passagem? Há quem diga ser...Na dúvida...Em lugares como este, não importa o que seja, o que tenha ou pareça, para cada um pode ser o que quiser. Achava ela não ser um simples monumento perdido no meio do nada, do verde coberto pelo branco, do fundo acinzentado pelo tempo. Também não era sonho, porque pessoas passavam por ali, e conversavam e iam e outras chegavam. Ela olhava para aquilo tentando achar uma resposta ou um sentido... mas será que precisa ter? Por que não, imaginar que simplesmente fora construído por acaso? Troço que encuca. Ainda não descobriu o que é... talvez não necessite saber...


quarta-feira, 8 de julho de 2009

Conselhos de um velhinho

Aproveitando as horas de "folga" das manhãs antes ocupadas pelas aulas, encontrei algumas "raridades", das quais há tempo não via. A começar por um vídeo encenado pelo personagem que atua nos antigos textos medievais. Acompanhada de uma orquestra, a figura toma o centro e começa a recitar algo que parece vir de algum lugar distante. O silêncio da platéia ecoa as frases ditas pelo Menestrel. A voz forte e a expressão no rosto reforçam o sentido das palavras: “depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se. E que companhia nem sempre significa segurança.”. Seriam conselhos de alguém que já viveu por muito tempo?

Deixei o vídeo tocar e tocar, e tocar, mais de uma vez. A voz não estava mais apenas na tela do computador, já repercutia na cabeça. O personagem falava de derrota, de enfretamento, de amor e amizade, de família. Balançando-se de um lado para o outro, do outro para o um, o cantor e músico ambulante (menestrel) também disse dos atos humanos... “Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto. (...) Aprende que não importa onde já chegou, mas para onde está indo… mas, se você não sabe para onde está indo, qualquer caminho serve. Aprende que, ou você controla seus atos, ou eles o controlarão… e que ser flexível não significa ser fraco, ou não ter personalidade...”. Talvez já naquela época, as pessoas tivessem certos problemas com a questão identidade.

Acredito não ser um texto de auto-ajuda, do tipo, faça isso ou aquilo, não se arrependa do que fez e blá,blá,blá. Ao ouvir e ver, imaginei o Menestrel um senhor, velhinho, contando as experiências que teve, como se quisesse ensinar o que a vida lhe mostrou, quase assim, um desabafo. Por isso, talvez, a utilização da terceira pessoa e da repetição do verbo “aprender”. Bonito apenas... construtivo, quem sabe?

Quanto à autoria, alguns atribuem ao poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare. Outros, no entanto, dizem advir do texto “After a while” de Verônica Shoffstall. Pequeno grande problema de direitos autorais na internet. (Mas deixemos isso para um próximo post, caso contrário, a intenção inicial se perderá em uma discussão que não terá fim.)

Termino então com as últimas linhas do texto e com a imagem de que, ao final da fala, o Menestrel agradece e a orquestra recomeça sua combinação de notas... o som que sela o dizer do velhinho... “Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar se não fosse o medo de tentar.”


**Assista ao vídeo com a encenação do Menestrel

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Era final de tarde. O sol começava a esconder-se por entre as nuvens. O gelado do inverno esfriava os corpos, as coisas, as folhas. Não havia mais flores. As cores haviam sido trocadas pelo cinza da estação. A neve dava sinais de sua chegada.
Eis que no alto de uma pequena montanha, alguém abria os braços e sorria, sozinha. Olhava para baixo e enxergava mais do que a cidade que ali desaparecia. O vento limpava os pensamentos e empurrava os sonhos. A alma se enchia da beleza que não aparecia. A natureza fazia sua parte.
Tomada pelo sentimento, deixou a razão de lado. O tempo poderia esperar os poucos instantes que a fariam voltar mais viva e certa; e calma e outra.





quinta-feira, 2 de julho de 2009

Por uma legislação contemporânea e democrática

Quando escolhi ser jornalista e ingressar em uma faculdade foi para aprender. Aprender a técnica, o debate, a maneira de conduzir. Em uma faculdade, não se aprende a escrever, mas aperfeiçoar; não nos é ensinado a colocar acentos e fazer a pontuação da maneira correta, mas as diferentes formas que um texto pode assumir segundo as suas adequações. Aprende-se ética, legislação. Aprende-se a entender o papel da mídia na sociedade e o trabalho do profissional que dela participa. Considerar o diploma desnecessário é desqualificar, não apenas o ofício do jornalismo, mas também as informações que se encontram nos meios de comunicação. É retroceder uma conquista que titulou aqueles que lutaram pelo melhoramento do exercício.

Indignados com a decisão do STF, os professores debatiam a obrigatoriedade do diploma. E, ao contrário dos que se opõem ao ensino das faculdades, o jornalista Tibério Vargas contou que quando ingressou na faculdade, o título não era necessário. Então por que entrou? Para aprender! Queria qualificação profissional. E assim como ele, tantos outros o fizeram. O diploma não censura a liberdade de expressão, ele dá condições para que tal liberdade seja expressa.

Em muitos países, não é preciso cursar uma faculdade específica para exercer a profissão, basta que se tenha uma especialização na área. No entanto, cada vez mais, surgem, nas nações exteriores, faculdades que se preocupam com o ensino teórico e prático da profissão. A Europa, por exemplo, se encaminham para uma nova ideia em relação ao jornalismo e ao exercício do mesmo. Enquanto isso, nós aqui no Brasil seguimos na direção oposta.

É claro que, em quatro anos, não se aprende tudo (aliás, tudo não pode ser aprendido em quatro, cinco, dez, vinte anos...). É óbvio que só na prática do dia-a-dia o trabalho pode ser aperfeiçoado. Mas isso não exclui a base. A faculdade é o alicerce, o norte, o mínimo. Saber da história, da técnica (porque é através dela que o conhecimento será passado), dos meios; para isso é a faculdade. E para os que reclamam da qualidade, uma pergunta: quantos são os que se dedicam e que realmente querem ser jornalistas? Se os alunos não dão valor ao que lhes é ensinado, mesmo que não considerem um bom aprendizado (desculpa que muitos se fazem), então não há professor que consiga passar o conhecimento adiante.

O diploma não exclui a participação de outros profissionais para o esclarecimento da saúde, da física, do Direito ou de qualquer outra área. Nunca lhes foi barrada a participação, até porque, o trabalho do jornalista depende de todas as outras atividades. O nosso papel (incluo-me aqui pelo orgulho de cursar a faculdade e receber um diploma ao final) é elucidar as histórias contadas, traduzir termos técnicos, é dar voz a mais de um lado e passar o que foi contado para diferentes públicos através de mídias diversas.

Minha esperança é que a decisão possa ser modificada. Acredito no Jornalismo, no ensino, na faculdade, nos professores, na profissão que escolhi.


** Assista ao manifesto dos professores da Faculdade de Comunicação Social da PUCRS:
http://www.youtube.com/watch?v=JDrMStRLVFU

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Flanelinhas de carteira

Flanelinha, termo advindo do português europeu, traduzido por “arrumador de carros” ou apenas “arrumador”. Transeunte nos centros urbanos, representa a figura do trabalhador que ganha dinheiro através de pequenos serviços no trânsito. Atividade de muita honra, pois se não o fosse, quem auxiliaria os barbeiros a estacionar em uma vaga pequena junto ao meio fio da calçada? Com a ajuda de uma simples abanada de mão e um sinal de “ok”, os mais desajeitados atravessam o sufoco. O “obrigado” vem então acompanhado de moedinhas, ou notas, que agradecem a boa vontade.

Não mais com flanelas nas mãos, os guardadores ganham uma nova oportunidade na capital. De jaleco, calça, camisa branca e gravata, cerca de 20 “arrumadores” participaram da cerimônia que tornou legal a atividade por eles exercida. De carteira assinada, uniforme e identificação, eles agora têm profissão. E mediante o recebimento da famosa “esmolinha”, o motorista receberá um recibo que comprova os trocados dados. A pergunta é: será que vai funcionar?

Segundo dados da Smic (Secretaria Municipal da Indústria e do Comércio), Porto Alegre abriga mais de 3 mil guardadores ilegais. A partir de hoje, grupos passam a ocupar as zonas delimitadas e supervisionadas pela Brigada Militar. E os ilegais como ficam? Será que serão escamoteados pelos que agora são merecedores do posto? A iniciativa corrobora para o aumento de empregos em tempos de crise e de maiores oportunidades para a classe trabalhadora. Então, na dúvida, confie sempre nos que agora se apresentarem de uniforme e, ao final, não esqueça de solicitar o recibo, não mais pela ajuda, mas pelo trabalho dos flanelinhas.
Ainda hei de contar... das cidades que conheci.. aventuras que vivi... No momento, só nostalgia de uma Alemanha que ficou...



Ah... Deutschland...

De volta

Depois de algum tempo... de viagens e estudo, a ideia é voltar para o mundo dos Blogs... e não apenas como leitora.